Colecionar
cartões-postais é como guardar épocas dentro de um
baú. Por meio deles é possível saber como variaram,
com o passar dos anos, as roupas, os costumes, a arquitetura e os pontos
turísticos das cidades. Na Europa, os cartões-postais constituem
um material bastante utilizado no estudo de várias disciplinas, principalmente
história e arquitetura. No Brasil, salvo algumas iniciativas pioneiras.
Gilberto Freyre fez um estudo sobre o ciclo da borracha na Amazônia
usando como ponto de partida postais enviados por imigrantes , o cartão-postal
ainda é pouco valorizado. Essa situação está
mudando, felizmente. Nesta semana, no quarteirão cultural do Pelourinho,
em Salvador, será inaugurado o primeiro espaço oficial dedicado
ao assunto. É o museu Tempostal, que reúne um acervo de 30.000
cartões coligidos por um único colecionador, o cartofilista
Antonio Marcelino do Nascimento.
O acervo foi comprado pela Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da
Bahia por 120.000 reais. O mais antigo cartão da coleção
data de 1898 e mostra um marco arquitetônico de Salvador, o Elevador
Lacerda, construído para ligar as cidades alta e baixa. O mais recente,
de 1992, retrata o Largo do Pelourinho depois da reforma. O forte da coleção
é exatamente esse: as estampas urbanas. São 10.000 cartões
que mostram Salvador, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro,
Curitiba e muitas outras cidades em várias épocas. Observá-los
em conjunto é mapear o crescimento e as mudanças nas cidades
brasileiras. Para os especialistas, o cartão-postal é um dos
melhores meios para estudar esse processo. "No Brasil, as cidades passaram
por várias transformações em pouco tempo, e os registros
fotográficos dos jornais são ruins", diz Benedito Lima
de Toledo, professor de história da arquitetura brasileira na Universidade
de São Paulo. Ele próprio é autor de vários
livros sobre a cidade de São Paulo ilustrados por postais.
Ir ao museu baiano pode ser um exercício de saudosismo. Há
desde velhos casarões já demolidos até bondes puxados
por burros em avenidas hoje tomadas por engarrafamentos. Um deles mostra
o Rio visto do alto do Corcovado numa época em que não havia
prédios de apartamentos diante da orla marítima nem favelas.
Um retrato da Ponte Nove de Julho, em São Paulo, revela uma cidade
sem trânsito. Belo Horizonte, flagrada em outro postal, é um
exemplo de limpeza. Outra coisa interessante que pode ser detectada através
do acervo são as mudanças, ao longo dos anos, nas imagens
chamadas de "cartões-postais" das cidades. Copacabana,
chique nos anos 30, foi trocada pelo Redentor, depois pelas praias de São
Conrado e Barra da Tijuca, que aparecem nos cartões mais recentes.
A Estação da Luz, símbolo do progresso de São
Paulo há 100 anos, perdeu o charme antes mesmo de se tornar um camelódromo.
Sem natureza exuberante, São Paulo cultiva a imagem de selva de pedra
desde o início do século. Datam dessa época os postais
dedicados a grandes obras de engenharia, como o Viaduto Santa Ifigênia,
o Teatro Municipal e, mais recentemente, o Edifício Itália.
Lotes temáticos No capítulo "vida cotidiana", destacam-se
na coleção os primeiros postais de Salvador, feitos no final
do século passado pelos fotógrafos Gaensly, inglês,
e Lindemann, alemão. Eles fizeram várias fotos mostrando o
povo nas ruas. Como a população da cidade, já naquela
época, era majoritariamente de negros e mulatos, as fotos provocaram
irritação na elite local. Em represália, foram contratadas
vedetes de acordo com os padrões da época (brancas e gorduchas)
para posar junto aos monumentos históricos da cidade. Os novos postais
foram enviados à Europa como "desagravo" à Bahia.
Omitindo-se apenas um detalhe: as tais vedetes eram todas alemãs,
inglesas ou espanholas. Detalhes como esse fazem do postal um interessante
objeto de estudo. O biblioteconomista Antonio Miranda, professor da Universidade
de Brasília e autor do livro O que É Cartofilia, tem a maior
coleção do país, com 200000 postais. A partir dela,
está montando uma base de dados sobre o cotidiano e os costumes das
cidades brasileiras em décadas passadas. "O cartão-postal
antigo foi para o seu tempo a forma de comunicação mais democrática,
que atingia todas as camadas sociais", diz.
Antonio Marcelino, o colecionador que vendeu seu acervo ao museu baiano,
começou a juntar postais no final da década de 40 e chegou
aos 30000 cartões com a ajuda de muita gente. Até o escritor
Jorge Amado achou por bem engordar a coleção, deixando aos
cuidados do cartofilista os postais que tinha em casa. Seguiram-se doações
de famílias importantes da cidade, cujos sobrenomes aparecem, como
destinatários ou remetentes, em muitos dos postais de Marcelino.
Todo o acervo ficou seis meses sendo higienizado antes de virar peça
de museu. A catalogação ainda não terminou, mas já
se decidiu que a exibição será por lotes temáticos,
até porque não é possível ver tantos cartões
de uma só vez. A mostra inaugural prioriza imagens de Salvador.
A partir da primeira semana de novembro, a Bienal de Arquitetura de São
Paulo terá uma sala dedicada a mostrar a importância do postal
no estudo da história do urbanismo. Para as comemorações
do centenário de Belo Horizonte, que acontece em 12 de dezembro deste
ano, o governo de Minas Gerais, através da Fundação
João Pinheiro, irá editar um livro com reproduções
de 270 cartões, mostrando a cidade nos seus primeiros cinqüenta
anos. O primeiro postal retratando Belo Horizonte é datado de 1902.
O material está sendo organizado pelo historiador Otávio Dias
Filho. Outro colecionador, Rogério
Matarazzo, instalou uma página na Internet em que divulga postais
brasileiros. Inaugurado em junho deste ano, o serviço já recebeu
quase 4000 visitantes.
Revista
Veja - 22 de outubro de 1997 |
|
JORNAL
DA CIDADE - POÇOS DE CALDAS
INTERNET
- Site traz fotos antigas da estância

O
site "Old Postcards From Brazil" oferece a possibilidade do
internauta ter acesso à cartões postais e fotos antigas
de países europeus e de três localidades do Brasil: Poços
de Caldas, Rio de Janeiro e São Paulo. O acervo da página
eletrônica conta com seis postais antigos da estância, que
podem ser copiados por qualquer pessoa.
FOTOS
Os postais trazem alguns locais conhecidos da cidade, como a rua Junqueiras
no ano de 1914, com árvores ainda em fase de crescimento, rua de
terra batida e casarões típicos da época. Há
também um registro interessante da praça Senador Godoy,
em 1915, ainda sem a formação paisagística que a
caracteriza (atualmente se chama praça Pedro Sanches).

A Casa Moreira Salles, que deu origem ao Unibanco, também é
mostrada pelo site, em registro de 1915. O belo casarão de dois
andares era localizado na esquina das atuais ruas Prefeito Chagas e Assis
Figueiredo.
Uma fonte de águas sulfurosas, identificada na época como
águas virtuosas, em 1920, por volta de 1920. Há ainda duas
fotos panorâmicas, uma delas mostrando as praças Princesa
Isabel e Dom Pedro II, e outra da parte sul do balneário dos Macacos,
ambas registradas em 1915.
Fonte: Jornal
da Cidade - 02/05/2005 |